Sudeste terá tempestades ainda mais intensas
Organização Meteorológica Mundial diz ainda que os governos devem se preparar porque eventos como o do Rio vão se repetir
21 de janeiro de 2011 | 0h 00
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertam que os governos do Brasil e, principalmente, dos Estados do Sudeste devem se preparar para enfrentar eventos climáticos extremos nos próximos anos. "Esse não foi um evento isolado (a devastação na região serrana do Rio). Os acontecimentos no Brasil confirmam uma tendência mundial de que tempestades tendem a ser cada vez mais fortes e em locais onde não ocorriam com a mesma força", afirmou Rupakumar Kolli, especialista da OMM.
A entidade diz que ainda não pode confirmar se a intensidade das chuvas no Rio foi causada diretamente pelas mudanças climáticas que afetam o planeta, mas tudo indica que sim. "É difícil dizer se as mudanças climáticas já atuam nesse caso", afirmou o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud. "O que está claro é que vemos um aquecimento do planeta e um número cada vez maior de eventos climáticos extremos e o que aconteceu no Brasil vai nessa direção."
"Governos precisam entender que esses fenômenos vão se repetir. Essa é a tendência que vemos em todo o mundo, com chuvas mais intensas em locais que não conheciam eventos tão drásticos", ressaltou Kolli. "O governo brasileiro precisa lidar com a vulnerabilidade de suas populações nas áreas de risco porque podemos dizer quase com certeza que novos eventos extremos vão ocorrer."
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Mas, se a OMM aponta que o número de mortos em eventos climáticos no mundo é cada vez menor, a tragédia no Rio vai na contramão desta tendência e está entre os dez deslizamentos com maior número de vítimas no mundo entre 1900 e 2011. A avaliação da entidade de meteorologia é que, em 2010, eventos climáticos extremos tiveram número relativamente baixo de mortos graças aos sistemas de alerta. Um exemplo é a enchente na Austrália, que fez poucas vítimas. No caso do Brasil a constatação é diferente. "As enchentes foram excepcionais no Brasil. É um dos casos mais mortais da história do País", disse Jarraud. Para ele, aprimorar sistemas de alerta contra desastres "é um dos melhores investimentos que um governo pode fazer".
A OMM lançou ontem um relatório no qual 2010 entrou para a história como o ano mais quente, igualando-se ao recorde de 1998. Segundo Jarraud, o ano também teve intensos fenômenos naturais, como o calor extremo na África, Groenlândia e Ásia, o frio intenso na Europa e Austrália. Em 2011, as enchentes no Brasil são mais um sinal dessa tendência, segundo a OMM. O organismo acredita que o La Niña não seja responsável pelo fenômeno. "As informações não indicam que o volume significativo de chuvas seja resultado do La Niña. Esse fenômeno atinge o Nordeste do Brasil, não o Sudeste", afirmou Kolli. La Niña é o resfriamento anormal da superfície do Oceano Pacífico.
"É cedo para dizer qual fenômeno foi responsável pelos problemas no Brasil. Não podemos atribuir diretamente ao La Niña, que pode até ter tido um papel indireto. Os cientistas terão uma confirmação nos próximos meses", completou Jarraud.
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