Catástrofe na região serrana do Rio já é o maior desastre climático do País
22 de janeiro de 2011 | 0h 00
Mortos são 785, mesmo número de enchente no Rio em 1967. Em ranking da ONU, também é o 8º maior deslizamento do mundo
Bruno Tavares - O Estado de S.Paulo
A tragédia da região serrana do Rio se igualou ontem ao maior desastre climático da história do País. Até as 22 horas de ontem, as autoridades contabilizavam 785 mortos, o mesmo número de vítimas da enchente do Rio em 1967, segundo ranking da ONU. O número tende a aumentar, pois o Ministério Público fluminense estima que ainda existam 400 desaparecidos nos seis municípios devastados pelas chuvas do dia 12.
Marcos de Paula/AE
Informações. Fotos de desaparecidos em Teresópolis
O desastre também entra para os registros da ONU como o 8.º pior deslizamento da história mundial. O maior evento dessa natureza, segundo o Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres, ocorreu em 1949, na antiga União Soviética, com 12 mil mortes. O segundo maior foi no Peru, em dezembro de 1941, e deixou 5 mil vítimas.
O deslizamento da região serrana já havia superado o número de vítimas registrado em 1967, em Caraguatatuba, quando 436 pessoas morreram. Por suas características devastadoras, o evento ocorrido há mais de quatro décadas na Serra do Mar paulista era considerado emblemático pelos geólogos.
Apesar da grande quantidade de água que desceu dos morros fluminenses e de vários rios terem transbordado, especialistas brasileiros e da própria ONU classificam o evento como deslizamento de terra. Na avaliação dos estudiosos, grande parte da destruição e das mortes foi causada pelas avalanches de terra e detritos - tecnicamente chamadas de corrida de lama.
O fenômeno é raro, pois depende de uma conjunção de fatores para ocorrer. No caso da região serrana do Rio, todos eles estavam presentes. Os morros são íngremes, o que favorece os escorregamentos de terra. Além disso, é preciso um grande volume de chuva concentrado em um curto espaço de tempo. Foi o que aconteceu ali. Segundo dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as estações climáticas localizadas no núcleo da tempestade registraram 249 e 297 milímetros de chuva em 24 horas - a partir das 20 horas do dia 11. Na avaliação da presidente do Inea, Marilene Ramos, um temporal dessa intensidade tem probabilidade de acontecer a cada 350 anos.
Enterro. Por questão "não só humanitária, mas também de saúde pública", o juiz da 2.ª Vara de Família de Teresópolis, José Ricardo Ferreira de Aguiar, determinou o enterro dos corpos de 25 vítimas das chuvas que estavam em um caminhão e trailers frigoríficos. No Cemitério Carlinda Berlim, o principal dos cinco da cidade, foram 232 enterros desde a semana passada. Pelo Instituto Médico-Legal, até ontem já tinham passado 312 cadáveres. O juiz crê que existam "no mínimo quatro vezes mais soterrados" do que os encontrado.
A maioria dos corpos enterrados ontem - 22 adultos e três crianças - teve a identificação levantada pela equipe de papiloscopistas do IML, da Força Nacional e do Instituto Félix Pacheco. Mas, como os corpos não foram reclamados por parentes, o enterro foi determinado pelo juiz. No caso dos corpos sepultados sem identificação, houve coleta de DNA. Assim, será possível confrontar dados dos parentes que buscarem informações.
A partir de agora, segundo decisão do juiz, os corpos não reconhecidos serão liberados após coleta de material biológico. "Em duas horas o corpo sairá dignamente para ser sepultado."
No caso dos desaparecidos, o Ministério Público afirma que informações registradas por parentes e amigos têm sido confrontadas com dados de hospitais e do IML. Ontem, fotos foram colocadas na frente de um centro de informações em Teresópolis. / COLABOROU MARCELO AULER
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