"A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o
cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de
demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar
roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública." Ulisses Guimarães
O deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, promulga a nova Constituição Brasileira no dia 5 de outubro de 1988 |
05 DE OUTUBRO DE 2013
25 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
DIVULGUE O DISCURSO DE ULISSES GUIMARÃES
NA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
EM 05.10.1988
VIDEO HISTORICO : Discurso de Promulgação da Constituição de 88.
DISCURSO DO DEPUTADO ULYSSES GUIMARÃES,
PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE,
EM 05 DE OUTUBRO DE 1988, POR OCASIÃO DA PROMULGAÇÃO
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Ulysses Guimarães
“ Exmo. Sr. Presidente da República, José Sarney; Exmo. Sr.
Presidente do Senado Federal, Humberto Lucena; Exmo. Sr. Presidente do Supremo
Tribunal Federal, Ministro Rafael Mayer; Srs. membros da Mesa da Assembléia
Nacional Constituinte; eminente Relator Bernardo Cabral; preclaros Chefes do
Poder Legislativo de nações amigas; insignes Embaixadores, saudados no decano
D. Carlo Furno; Exmos. Srs. Ministros de Estado; Exmos. Srs. Governadores de
Estado; Exmos. Srs. Presidentes de Assembléias Legislativas; dignos Líderes
partidários; autoridades civis, militares e religiosas, registrando o comparecimento
do Cardeal D. José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília, e de D. Luciano Mendes
de Almeida, Presidente da CNBB; prestigiosos Srs. Presidentes de confederações,
Sras. e Srs. Constituintes; minhas senhoras e meus senhores:
Estatuto do Homem, da Liberdade, da Democracia.
Dois de fevereiro de 1987: “Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A Nação quer mudar, a
Nação deve mudar, a Nação vai mudar.” São palavras constantes do discurso
de posse como Presidente da Assembléia Nacional Constituinte.
Hoje, 5 de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a
Nação mudou.
A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição
dos poderes, mudou restaurando a Federação, mudou quando quer mudar o homem em
cidadão, e só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve,
mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa. Num país de 30.401.000
analfabetos, afrontosos 25% da
população, cabe advertir: a cidadania começa com o alfabeto.
Chegamos! Esperamos a Constituição como o vigia espera a
aurora. Bem-aventurados os que chegam. Não nos desencaminhamos na longa marcha,
não nos desmoralizamos capitulando ante pressões aliciadoras e comprometedoras,
não desertamos, não caímos no caminho. Alguns a fatalidade derrubou: Virgílio
Távora, Alair Ferreira, Fábio
Lucena,Antonio Farias e Norberto Schwantes. Pronunciamos seus nomes
queridos com saudade e orgulho: cumpriram com o seu dever.
A Nação nos mandou executar um serviço. Nós o fizemos com
amor, aplicação e sem medo. A Constituição certamente não é perfeita. Ela
própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim.
Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é
traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar
as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a
cadeia, o exílio, o cemitério.
A persistência da Constituição é a sobrevivência da
democracia. Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o
estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua
honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.
Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e
nações, principalmente na América Latina.
Assinalarei algumas marcas da Constituição que passará a
comandar esta grande Nação.
A primeira é a coragem.
A coragem é a matéria-prima da civilização. Sem ela, o dever
e as instituições perecem. Sem a coragem, as demais virtudes sucumbem na hora
do perigo. Sem ela, não haveria a cruz, nem os evangelhos. A Assembléia
Nacional Constituinte rompeu contra
o establishment, investiu contra a
inércia, desafiou tabus. Não ouviu o refrão saudosista do velho do Restelo, no
genial canto de Camões.
Suportou a ira e perigosa campanha mercenária dos que se atreveram
na tentativa de aviltar legisladores em guardas de suas burras abarrotadas com
o ouro de seus privilégios e especulações.
Foi de audácia inovadora a arquitetura da Constituinte,
recusando anteprojeto forâneo ou de elaboração interna. O enorme esforço é
dimensionado pelas 61.020 emendas, além de 122 emendas populares, algumas com
mais de 1 milhão de assinaturas, que foram apresentadas, publicadas,
distribuídas, relatadas e votadas, no longo trajeto das subcomissões à redação
final. A participação foi também pela presença, pois diariamente cerca de 10
mil postulantes franquearam, livremente, as 11 entradas do enorme complexo
arquitetônico do Parlamento, na procura dos gabinetes, comissões, galeria e
salões.
Há, portanto, representativo e oxigenado sopro de gente, de
rua, de praça, de favela, de fábrica, de trabalhadores, de cozinheiros, de
menores carentes, de índios, de posseiros, de empresários, de estudantes, de
aposentados, de servidores civis e militares, atestando a contemporaneidade e
autenticidade social do texto que ora passa a vigorar. Como o caramujo,
guardará para sempre o bramido das ondas de sofrimento, esperança e
reivindicações de onde proveio.
A Constituição é caracteristicamente o estatuto do homem. É
sua marca de fábrica. O inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de
direito, consectário da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais
miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria.
Tipograficamente é hierarquizada a precedência e a
preeminência do homem, colocando-o no umbral da Constituição e catalogando-lhe
o número não superado, só no art. 5º., de 77 incisos e 104 dispositivos.
Não lhe bastou, porém, defendê-lo contra os abusos
originários do Estado e de outras procedências. Introduziu o homem no Estado,
fazendo-o credor de direitos e serviços, cobráveis inclusive com o mandado de
injunção. Tem substância popular e cristã o título que a consagra: “a
Constituição cidadã”. Vivenciados e originários dos Estados e Municípios, os Constituintes haveriam de ser fiéis à
Federação. Exemplarmente o foram.
No Brasil, desde o Império, o Estado ultraja a geografia.
Espantoso despautério: o Estado contra o País, quando o País é a geografia, a
base física da Nação, portanto, do Estado.
É elementar: não existe Estado sem país, nem país sem
geografia. Esta antinomia é fator de nosso atraso e de muitos de nossos
problemas, pois somos um arquipélago social, econômico, ambiental e de
costumes, não uma ilha. A civilização e a grandeza do Brasil percorreram rotas centrífugas e não centrípetas. Os
bandeirantes não ficaram arranhando o litoral como caranguejos, na imagem
pitoresca mas exata de Frei Vicente do Salvador. Cavalgaram os rios e marcharam
para o oeste e para a História, na conquista de um continente.
Foi também indômita vocação federativa que inspirou o gênio
do Presidente Juscelino Kubitschek, que plantou Brasília longe do mar, no
coração do sertão, como a capital da interiorização e da integração. A
Federação é a unidade na desigualdade, é a coesão pela autonomia das províncias.
Comprimidas pelo centralismo, há o perigo de serem empurradas para a secessão. É
a irmandade entre as regiões. Para que não se rompa o elo, as mais prósperas
devem colaborar com as menos desenvolvidas. Enquanto houver Norte e Nordeste
fracos, não haverá na União Estado forte, pois fraco é o Brasil. As
necessidades básicas do homem estão nos Estados e nos Municípios. Neles deve
estar o dinheiro para atendê-las.
A Federação é a governabilidade. A governabilidade da Nação
passa pela governabilidade dos Estados e dos Municípios. O desgoverno, filho da
penúria de recursos, acende a ira popular, que invade primeiro os paços
municipais, arranca as grades dos palácios e acabará chegando à rampa do
Palácio do Planalto.
A Constituição reabilitou a Federação ao alocar recursos
ponderáveis às unidades regionais e locais, bem como ao arbitrar competência
tributária para lastrear-lhes a independência financeira. Democracia é a
vontade da lei, que é plural e igual para todos, não a do príncipe, que é
unipessoal e desigual para os favorecimentos e os privilégios.
Se a democracia é o governo da lei, não só ao elaborá-la,
mas também para cumpri-la, são governo o Executivo e o Legislativo.
O Legislativo brasileiro investiu-se das competências dos
Parlamentos contemporâneos.
É axiomático que muitos têm maior probabilidade de acertar
do que um só. O governo associativo e gregário é mais apto do que o solitário.
Eis outro imperativo de governabilidade: a co-participação e a
co-responsabilidade. Cabe a indagação: instituiu-se no Brasil o tricameralismo
ou fortaleceu-se o unicameralismo, com as numerosas e fundamentais atribuições
cometidas ao Congresso Nacional? A resposta virá pela boca do tempo. Faço votos
para que essa regência trina prove bem.
Nós, os legisladores, ampliamos nossos deveres. Teremos de
honrá-los. A Nação repudia a preguiça, a negligência, a inépcia. Soma-se à
nossa atividade ordinária, astante dilatada, a edição de 56 leis complementares
e 314 ordinárias. Não esqueçamos que, na ausência de lei complementar, os
cidadãos poderão ter o provimento suplementar pelo mandado de injunção.
A confiabilidade do Congresso Nacional permite que repita,
pois tem pertinência, o slogan: “Vamos votar, vamos votar”, que integra o
folclore de nossa prática constituinte, reproduzido até em horas de diversão e
em programas humorísticos.
Tem significado de diagnóstico a Constituição ter alargado o
exercício da democracia, em participativa além de representativa. É o clarim da
soberania popular e direta, tocando no umbral da Constituição, para ordenar o
avanço no campo das necessidades sociais. O povo passou a ter a iniciativa de
leis. Mais do que isso, o povo é o superlegislador, habilitado a rejeitar, pelo
referendo, projetos aprovados pelo Parlamento. A vida pública brasileira será
também fiscalizada pelos cidadãos. Do Presidente da República ao Prefeito, do
Senador ao Vereador.
A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da
República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos,
que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na
cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública.
Pela Constituição, os cidadãos são poderosos e vigilantes agentes da fiscalização, através do mandado de segurança coletivo; do direito de receber informações dos órgãos públicos, da prerrogativa de petição aos poderes públicos, em defesa de direitos contra ilegalidade ou abuso de poder; da obtenção de certidões para defesa de direitos; da obtenção de certidões para defesa de direitos; da ação popular, que pode ser proposta por qualquer cidadão, para anular ato lesivo ao patrimônio público, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, isento de custas judiciais; da fiscalização das contas dos Municípios por parte do contribuinte; podem peticionar, reclamar, representar ou apresentar queixas junto às comissões das Casas do Congresso Nacional; qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato são partes legítimas e poderão denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União, do Estado ou do Município.A gratuidade facilita a efetividade dessa fiscalização.
Pela Constituição, os cidadãos são poderosos e vigilantes agentes da fiscalização, através do mandado de segurança coletivo; do direito de receber informações dos órgãos públicos, da prerrogativa de petição aos poderes públicos, em defesa de direitos contra ilegalidade ou abuso de poder; da obtenção de certidões para defesa de direitos; da obtenção de certidões para defesa de direitos; da ação popular, que pode ser proposta por qualquer cidadão, para anular ato lesivo ao patrimônio público, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, isento de custas judiciais; da fiscalização das contas dos Municípios por parte do contribuinte; podem peticionar, reclamar, representar ou apresentar queixas junto às comissões das Casas do Congresso Nacional; qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato são partes legítimas e poderão denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União, do Estado ou do Município.A gratuidade facilita a efetividade dessa fiscalização.
A exposição panorâmica da lei fundamental que hoje passa a
reger a Nação permite conceituá-la, sinoticamente, como a Constituição coragem,
a Constituição cidadã, a Constituição federativa, a Constituição representativa
e participativa, a Constituição do Governo síntese Executivo-Legislativo, a
Constituição fiscalizadora.
Não é a Constituição perfeita. Se fosse perfeita, seria
irreformável. Ela própria, com humildade e realismo, admite ser emendada, até
por maioria mais acessível, dentro de 5 anos.
Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira,
desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados. É
caminhando que se abrem os caminhos. Ela vai caminhar e abri-los. Será redentor
o caminho que penetrar nos bolsões sujos, escuros e ignorados da miséria.
Recorde-se, alvissareiramente, que o Brasil é o quinto país
a implantar o instituto moderno da seguridade, com a integração de ações
relativas à saúde, à previdência e à assistência social, assim como a
universalidade dos benefícios para os que contribuam ou não, além de beneficiar
11 milhões de aposentados, espoliados em seus proventos.
É consagrador o testemunho da ONU de que nenhuma outra Carta
no mundo tenha dedicado mais espaço ao meio ambiente do que a que vamos
promulgar.
Sr. Presidente José Sarney: V.Exa. cumpriu exemplarmente o
compromisso do saudoso, do grande Tancredo Neves, de V.Exa. e da Aliança
Democrática ao convocar a Assembléia Nacional Constituinte. A Emenda
Constitucional nº26 teve origem em mensagem do Governo, de V.Exa., vinculando
V.Exa. à efemeridade que hoje a Nação celebra.
Nossa homenagem ao Presidente do Senado, Humberto Lucena,
atuante na Constituinte pelo seu trabalho, seu talento e pela colaboração
fraterna da Casa que representa.
Sr. Ministro Rafael Mayer, Presidente do Supremo Tribunal
Federal, saúdo o Poder Judiciário na pessoa austera e modelar de V.Exa. O
imperativo de “Muda Brasil”, desafio de nossa geração, não se processará sem o
conseqüente “Muda Justiça”, que se instrumentalizou na Carta Magna com a
valiosa contribuição do poder chefiado por V.Exa. Cumprimento o eminente
Ministro do Supremo Tribunal Federal, Moreira Alves, que, em histórica sessão,
instalou em 1o de fevereiro de 1987
a Assembléia Nacional Constituinte.
Registro a homogeneidade e o desempenho admirável e
solidário de seus altos deveres, por parte dos dignos membros da Mesa Diretora,
condôminos imprescindíveis de minha Presidência.
O Relator Bernardo Cabral foi capaz, flexível para o
entendimento, mas irremovível nas posições de defesa dos interesses do País. O
louvor da Nação aplaudirá sua vida pública.
Os Relatores Adjuntos, José Fogaça, Konder Reis e Adolfo
Oliveira, prestaram colaboração unanimemente enaltecida.
Nossa palavra de sincero e profundo louvor ao mestre da
língua portuguesa Prof. Celso Cunha, por sua colaboração para a escorreita
redação do texto.
O Brasil agradece pela minha voz a honrosa presença dos prestigiosos
dignitários do Poder Legislativo do continente americano, de Portugal, da
Espanha, de Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Príncipe e Cabo Verde. As nossas
saudações.
Os Srs. Governadores de Estado e Presidentes das Assembléias
Legislativas dão realce singular a esta solenidade histórica. Os Líderes foram
o vestibular da Constituinte. Suas reuniões pela manhã e pela madrugada, com
autores de emendas e interessados, disciplinaram, agilizaram e qualificaram as
decisões do Plenário. Os Anais guardarão seus nomes e sua benemérita faina.
Cumprimento as autoridades civis, eclesiásticas e militares,
integrados estes com seus chefes, na missão, que cumprem com decisão, de
prestigiar a estabilidade democrática.
Nossas congratulações à imprensa, ao rádio e à televisão.
Viram tudo, ouviram o que quiseram, tiveram acesso desimpedido às dependências
e documentos da Constituinte. Nosso reconhecimento, tanto pela divulgação como
pelas críticas, que documentam a absoluta liberdade de imprensa neste País.
Testemunho a coadjuvação diuturna e esclarecida dos funcionários e assessores, abraçando-os
nas pessoas de seus excepcionais chefes,
Paulo Affonso Martins de Oliveira e Adelmar Sabino. Agora conversemos pela
última vez, companheiras e companheiros constituintes.
A atuação das mulheres nesta Casa foi de tal teor, que, pela
edificante força do exemplo, aumentará a representação feminina nas futuras
eleições.
Agradeço a colaboração dos funcionários do Senado – da
Gráfica e do Prodasen.
Agradeço aos Constituintes a eleição como seu Presidente e
agradeço o convívio alegre, civilizado e motivador.
Quanto a mim, cumpriu-se o magistério do filósofo: o segredo
da felicidade é fazer do seu dever o seu prazer.
Todos os dias, meus amigos constituintes, quando divisava,
na chegada ao Congresso, a concha
côncava da Câmara rogando as bênçãos do céu, e a convexa do Senado ouvindo as
súplicas da terra, a alegria inundava meu coração. Ver o Congresso era como ver
a aurora, o mar, o canto do rio, ouvir os passarinhos.
Sentei-me ininterruptamente 9 mil horas nesta cadeira, em
320 sessões, gerando até interpretações divertidas pela não-saída para lugares
biologicamente exigíveis. Somadas as das sessões, foram 17 horas diárias de
labor, também no gabinete e na residência, incluídos sábados, domingos e
feriados.
Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçado por
tempestades. Uma delas, benfazeja, me colocou no topo desta montanha de sonho e
de glória. Tive mais do que pedi, cheguei mais longe do que mereço.Que o bem
que os Constituintes me fizeram frutifique
em paz, êxito e alegria para cada um deles.
Adeus, meus irmãos. É despedida definitiva, sem o desejo de
retorno. Nosso desejo é o da Nação: que este Plenário não abrigue outra
Assembléia Nacional Constituinte. Porque, antes da Constituinte, a ditadura já
teria trancado as portas desta Casa.
Autoridades, Constituintes, senhoras e senhores, A sociedade
sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou antagonismo do Estado.
O Estado era Tordesilhas. Rebelada, a sociedade empurrou as
fronteiras do Brasil, criando uma das maiores geografias do Universo. O Estado,
encarnado na metrópole, resignara-se ante a invasão holandesa no Nordeste. A
sociedade restaurou nossa
integridade territorial com a insurreição nativa de Tabocas
e Guararapes, sob a liderança de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e
João Fernandes Vieira, que cunhou a frase da preeminência da sociedade sobre o
Estado: “Desobedecer a El-Rei, para servir a El-Rei”.
O Estado capitulou na entrega do Acre, a sociedade retomou-o
com as foices, os achados e os punhos de Plácido de Castro e dos seus
seringueiros.
O Estado autoritário prendeu e exilou. A sociedade, com
Teotônio Vilela, pela anistia, libertou e repatriou.
A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o
mataram.
Foi a sociedade, mobilizada nos colossais comícios das
Diretas-já, que, pela transição e pela mudança, derrotou o Estado usurpador.
Termino com as palavras com que comecei esta fala: a Nação
quer mudar.
A Nação deve mudar. A Nação vai mudar.
A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade
política da sociedade rumo à mudança.
Que a promulgação seja nosso grito:
– Mudar para vencer!
Muda, Brasil!”
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